Aplicações da Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (DBT-RO)

A Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (DBT-RO) é uma abordagem para o tratamento de condições relacionadas ao supercontrole desadaptativo. O supercontrole desadaptativo é um estilo de enfrentamento excessivamente controlado, composto de inflexibilidade psicológica e comportamental, supressão e alta inibição emocional, baixa resposta a recompensa, perfeccionismo e falta de conexão social. Esse estilo de enfrentamento está associado a maior isolamento social e fraca resposta ao tratamento de condições como os transtornos de ansiedade, depressivos e alimentares.

Vale a pena ressaltar que o supercontrole por si só pode não ser uma característica desadaptativa, e com frequência está presente em pessoas com alta funcionalidade, no entanto, assim como na maioria dos casos, o excesso do supercontrole pode ser desadaptativo e acarretar em prejuízos significativos, principalmente sociais. A falta de conexão social está associada a piores resultados em termos de saúde mental e física.

A DBT-RO é uma abordagem transdiagnóstica porque o foco é o supercontrole desadaptativo, que pode ser apresentado por pessoas que apresentem diferentes conjuntos de sintomas. Essa abordagem é diferente da Terapia Comportamental Dialética padrão (DBT) porque a primeira se propõe a tratar pacientes sub-regulados, que apresentam desregulação emocional e comportamento dependente do humor, já a DBT-RO tem como alvos principais a baixa abertura e a sinalização social desadaptativa.

Principais diferenças entre a DBT e a DBT-RO:

DBT

DBT-RO

Público-alvo: pacientes com desregulação emocional e comportamento dependente do humor

Público-alvo: pacientes com supercontrole desadaptativo e controle inibitório excessivo

Baseada no Behaviorismo, na Filosofia Dialética e no Zen Budismo

Baseada no Behaviorismo, na Filosofia Dialética e no Sufismo Malâmati

Alvos:

1. Reduzir os comportamentos suicidas;

2. Reduzir os comportamentos que interferem na terapia;

3. Reduzir os comportamentos que interferem na qualidade de vida;

4. Promover as habilidades comportamentais;

5. Reduzir o estresse pós-traumático;

6. Promover o respeito pelo self.

Alvos:

1. Comportamento hiper focado em detalhes e excessivamente cauteloso;

2. Comportamento rígido e controlado por regras;

3. Expressão emocional rígida e dissimulada;

4. Conexão social e relacionamentos distantes e indiferentes;

5. Tendências aumentadas de se envolver em comparações sociais, inveja e amargura.

O papel do terapeuta é o de ajudar o paciente a controlar o comportamento diante do impulso.

O papel do terapeuta é o de ajudar o paciente a ser mais espontâneo, relaxado e a expressar as emoções de uma forma responsável.

A DBT-RO enfatiza a sinalização social como o principal mecanismo de mudança, ela aborda a importância de direcionar comportamentos observáveis publicamente com a função de aumentar a conexão social com pessoas importantes. A interação social foi importante para a sobrevivência da nossa espécie, e os sinais sociais (ex: revirar os olhos, sorrir, micro expressões, entre outros) são maneiras eficazes de comunicar abertura com outros e formar laços.

Assim como a DBT padrão, a DBT-RO tem diferentes módulos, como a terapia individual, o treinamento de habilidades (com conteúdo diferente do grupo de treinamento de habilidades DBT), time de consultoria e coaching telefônico.

Os estudos conduzidos com base na DBT-RO foram realizados com adolescentes e adultos com supercontrole desadaptativo, principalmente relacionados à diagnósticos como o de transtornos alimentares com e sem comportamentos autolesivos e transtornos depressivos refratários ao tratamento com e sem comorbidade com transtornos da personalidade. As pesquisas encontraram bons resultados da DBT-RO para a diminuição do supercontrole desadaptativo e taxas de remissão significativamente altas nos transtornos depressivos refratários e transtornos alimentares, principalmente na anorexia nervosa.

É digno de nota que, embora a DBT-RO se mostre eficaz para pacientes resistentes ao tratamento convencional, ainda há necessidade de pesquisas com amostras maiores e populações diferentes.


Referências:

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